A língua portuguesa e a identidade do assimilado em Angola: Algumas leituras a partir do conto “Mestre Tamoda”, de Uanhenga Xitu

Autores

  • Marcela Magalhães de Paula Centro Cultural Brasil - Italia
  • Lorena da Silva Rodrigues Universidade Federal do Ceará

DOI:

https://doi.org/10.53943/ELCV.0121_10

Palavras-chave:

Colonialismo, políticas linguísticas, literatura angolana, língua portuguesa

Resumo

Este trabalho visa apresentar uma análise do uso da língua portuguesa como idioma oficial do estado colonial lusitano, em confronto com a diversidade linguística dos países colonizados, especialmente Angola. Para tanto, analisar-se-á o conto «Mestre Tamoda», do escritor Uanhenga Xitu, para exemplificar e discutir as atitudes linguísticas dos falantes africanos do português. Ademais, averiguar-se-á o papel das políticas linguísticas públicas de Portugal e os processos de (tentativas de) aniquilamento e abolição das línguas autóctones africanas, bem como o modo como a língua portuguesa foi promovida e passou a servir de instrumento de opressão do poder colonial. No texto africano em questão, podemos observar o processo violento pelo qual os sujeitos autóctones foram submetidos em prol da implementação de uma série de medidas políticas que «vendiam» a ideia de civilização, mas que extinguiam ou tentavam diminuir as manifestações das culturas e línguas locais. Tamoda constrói sua identidade buscando, através da cópia dos hábitos e costumes do colonizador, um lugar na sociedade. No contexto lusófono, essa «invenção da cidadania» se deu subvertendo a ideia de que é o invadido que deve aceitar e se adequar aos valores «locais» do invasor e não o contrário. Assim, a língua e a cultura não poderiam apenas ser meramente impostas, mas elas teriam também que oferecer uma esperança de ascensão e ingresso na cidadania. Estas políticas públicas sofisticadas tornaram e tornariam viáveis o projeto moderno de governabilidade, por intermédio da imposição de instrumentos disciplinares, como a promoção da língua portuguesa.

Referências

Impressa

Bhabha, H. K. (1998). O local da cultura. (Trad: Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves). UFMG. Belo Horizonte

Caminha, P. V. (1997). Carta a El Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil. Expo’98. Lisboa

Castro-Gomez, S. (2005). Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da invenção do outro. Em: E. Lander (org.). A colonialidade do saber: Eurocentrismo e ciências sociais: Perspectivas latinoamericanas. Ciudad Autonoma de Buenos Aires. Argentina

Chabal, P. (1994). Vozes moçambicanas: Literatura e nacionalidade. Veja. Porto

Couto, H. (2009). Linguística, ecologia e eco-linguística, contato de línguas. RB Editora.São Paulo

Domingues, P. (2005). Movimento da negritude: Uma breve reconstrução histórica. USP. Rio de Janeiro

Fanon, F. (1983). Pele negra, máscaras brancas. (Trad. Adriano Caldas). Sindicato Nacional dos Editores e Livros. Rio de Janeiro

Fraser, R. (2000). Lifting the Sentence: A Poetics of Postcolonial Fiction. Nova. Manchester

Garcia, S. (2002). Canudos: História e literatura. HD Livros. Curitiba

Henriques, M. C. H. e Paradelo, A. (2006). Uma fórmula de soft power. Revista Nação e Defesa, 3.ª Série. 113: 107-127

Leite, A. M. (1998). Empréstimos da oralidade na produção e crítica literárias africanas.Em: Oralidades & escritas nas literaturas africanas. Colibri. Lisboa

Mata, I. (2011). Discutindo fronteiras: Literatura e globalização ou a condição pós-colonial das literaturas africanas. Em: O. Rios (org.). Arquipélago contínuo: Literaturas plurais. UEA. Manaus

Memmi, A. (2007). Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro

Nascimento, G. (2019). Racismo linguístico:Os subterrâneos da linguagem e do racismo. Letramento. Belo Horizonte

Nye, J. S. (2004). Soft Power. Public Affairs. New York

Pratt, M. L. (1999). Os olhos do império: Relatos de viagem e transculturação. (Trad. Jézio Hernani Bonfim Gutierre). EDUSC. Bauru/São Paulo

Pina, A. e Pina, J. (2006). «Mestre» Tamoda, de Uanhenga Xitu: Uma caricatura da assimilação do colonizado angolano. Graphos, 8 (1): 159-170

Retamar, R. F. (1997). Caliban Speaking Five Hundred Years Later. Em: A. McClintock, A. Mufti e E. Shohat(eds.). Dangerous Liaisons: Gender, Nation, and Postcolonial Perspectives. University of Minnesota Press. Minneapolis

Sousa e Silva, M. (1996). Do alheio ao próprio:A poesia em Moçambique. Edusp. São Paulo

Sakukuma, A. (2016). Angola: Deslocamentos narrativos em Uanhenga Xitu e Moisés Mbambi. Universidade Nova de Lisboa. Lisboa

Xitu, U. (1977). Cultos especiais: «Mestre Tamoda» e outros contos. Edições 70. Lisboa.

Digital

Carvalho, M. C. C. (2006). O engajamento artístico de Luandino Vieira e Uanhenga Xitu. Revista Transversos, 6 (6): 85-102, Acedido a 12 de Fevereiro de 2018, em: https://www.e--publicacoes.uerj.br/index.php/transversos/article/view/22079

Garcia, E. (2007). O projeto pombalino de imposição da língua portuguesa aos índios e a sua aplicação na América meridional [Versão electrónica]. Tempo, (12) 23: 23-38. Acedido a 30 de março de 2018, em: https://www.scielo.br/j/tem/a/bgMRwy9wwwKHJVC4TdyfqMy/abstract/?lang=pt

Macêdo, T. (1992). O «pretoguês» e a literatura de José Luandino Vieira [Versão electrónica]. Alfa: Revista de Linguística, 36: 171-176. Acedido a 30 de março de 2018, em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/3917

Macêdo, T. (2012). Apontamentos sobre a escrita de Uanhenga Xitu, um griô engajado. África: Revista do Centro de Estudos Africanos, número especial, 237-245. Acedido a 12 de fevereiro de 2018, em: http://www.revistas.usp.br/africa/article/viewFile/102640/100903

Matos, N. (1953). Discurso proferido no Conselho da Assembleia da ONU. Acedido a30 de março de 2018, no Portal das Memórias de África e do Oriente: http://memoria-africa.ua.pt/Catalog.aspx?q=AU%20matos,%20norton%20de

Neves, C. R. e Almeida, A.C. (2012). A identidade do «Outro» colonizado à luz das reflexões dos estudos Pós-Coloniais [Versão electrónica]. Em Tempo de Histórias, 5: 123-135. Acedido a 30 de março de 2018, em: https://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/19862/18309

Puglia, L. (2006), Literatura angolana: Utopias pré e pós-libertação. Acedido a 30 de março de 2018, no Web site da: União de Escritores Angolano: https://www.ueangola.com/criti-cas-e-ensaios/item/340-literatura-angolana-utopias-pr%C3%A9-e-p%C3%B3s-liberta%-C3%A7%C3%A3o

Downloads

Publicado

28-06-2021