A religião nas narrativas utópicas
DOI:
https://doi.org/10.53943/ELCV.0119_12Palavras-chave:
Utopia, religião, cristianismo, crítica, éticaResumo
A Utopia de Thomas More e as criações literárias posteriores que se inscrevem no mesmo género literário representam a afirmação da iniciativa humana e a sua exclusiva responsabilidade pelas leis que regem o destino da cidade. Esta autarcia política aponta para uma organização da sociedade, tão ciosa de autonomia, que dela parece excluir qualquer divindade ou religião. Não é, porém, o que vemos na generalidade das narrativas utópicas, a começar pela de More que se ocupa longamente da questão religiosa. Que estatuto e significado tem a religião nas utopias? A resposta pode ser ensaiada em três níveis principais, que correspondem a outros tantos modos de presença e articulação do elemento religioso nas sociedades descritas. Há, em primeiro lugar, a consagração do cristianismo como religião suprema na Utopia de More. Todavia essa consagração não impede que a dimensão de crítica social, própria da imaginação utópica, se aplique também ao fenómeno religioso. Temos, depois, a referência cristã de narrativas em que o cristianismo das origens figura como inspiração e modelo. Lembremos, por exemplo, o «Novo Cristianismo» de Saint-Simon. Por fim, nos últimos dois séculos, o horizonte da religião tende a dissipar-se em narrativas que advogam a implantação de nova ética social. Nesta comunicação cingimo-nos apenas às «utopias do Renascimento», as utopias de Thomas More, Tommaso Campanella e Francis Bacon.
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